Mercado Musical Descendo a Ladeira

Comparando publicações da ABPD (Associação Brasileiras de Produtores de Discos) é possível comprovar o que todos já sabem: cada vez menos as pessoas compram discos.

Entre defensores do mercado tradicional e da música livre e gratuita, existem centenas de argumentos mas um fato apenas: o mercado está minguando. Segundo os dados, em 2000, quando já existia o MP3 e a pirataria (principais algozes do mercado fonográfico) as vendas de CDs no Brasil ultrapassaram os 94 milhôes de cópias totalizando 890 milhões de reais. Em 2011, a cifra fechou em 196 milhões de reais por minguados 18 milhões de CDs.

Estes números demonstram duas coisas que nós, profissionais do meio da música, precisamos, mesmo que a contragosto, entender:

1 – O mercado como conhecemos está morrendo.

Sim, ele está agonizando. Há quem defenda que já morreu, está morto e enterrado, mas, como vimos, ainda movimenta milhões de reais. Apesar disso, existe a cultura, defendida por muitos, de que a música deve ser gratuita e por conta disso muitos baixam gratuitamente discografias inteiras ou novos álbuns antes mesmo de seu lançamento oficial.

Resultado: as empresas encolheram, muitas fecharam ou se fundiram, menos gente trabalha apenas com a música para sobreviver e todo aquele texto que quem trabalha na área já recitou diversas vezes em tom de aborrecimento. O músico, que já ganhava um valor simbólico no velho modelo, agora conquista cada vez mais o status de mendigo da música.

2 – É preciso repensar a música dentro de um novo formato, onde as vendas de material oficial não configurem fonte de renda, já que configuram cada vez menos.

É evidente que é lamentável que ocorra esse encolhimento, pois vários músicos, produtores, técnicos, gravadoras, selos e profissionais de música em geral acabam por deixar esse mercado ou apenas sobreviver dele. No entanto, a mudança aconteceu e é necessário lidar com ela. O que pode parecer conformismo ou um pensamento derrotista na verdade é apenas uma interpretação dos dados citados. Não há, hoje, nenhum motivo para acreditar que o traço descendente que virou o grafico da industria fonográfica vá, de maneira mágica, se converter em uma curva exponencial.

Portanto, é hora de parar com a lamentação e pensar, pensar, pensar muito e inovar. Porque do jeito que foi, não será novamente e do jeito que está, descendo a ladeira, também não dá. A reformulação é a única forma de realmente valorizar nossa música, nossa arte, nossos profissionais e nossa cultura.

Viva a Música! Sempre!

Ditadura e Democracia em 2012

Vivemos em uma democracia.

Pelo menos é isso que se espalha pelas ruas, se ensina nas escolas e se enche o peito para afirmar sempre que é necessária alguma decisão ou mudança que afete a todos na sociedade. Somos criados sob a afirmação de que vivemos em uma república democrática, onde o voto popular é soberano e dele nascem toda e qualquer diretriz imposta pelo estado.

Uma falácia.

A idéia de que somos livres, somos soberanos, temos o poder do voto, é apenas um engodo, uma conversa pra boi dormir, que tem como único objetivo manter a população pacífica e passiva diante de tudo, funcionando basicamente (e de maneira eficaz) através da troca de ilusões: a população acredita que tem o poder e o poder mantém firme o discurso de que o poder é popular.

No entanto, diversos são os indícios e provas concretas de que não, não vivemos em democracia alguma. Ainda temos que conviver com um estado que ignora e reprime o debate sobre questões de suma importância como aborto e drogas. Ou ainda somos submetidos aos “cuidados” de uma polícia violenta e despreparada, mal remunerada e adepta da repressão, um reflexo nítido dos tempos da ditadura.

A ditadura, aliás, manda lembranças. Ainda hoje temos, como uma incômoda pedra do sapado do cidadão, a famigerada bancada evangélica, que munida de seus preceitos fundamentalmente religiosos, julgam-se no direito de intervir em questões importantes em nome, unica e exclusivamente, de sua crença. Não seria essa uma nova versão, light, zero açúcar, do “Deus, Pátria e Família”?

No mercado de trabalho, ainda hoje temos mulheres ganhando menos que homens, negros ganhando menos que brancos e gays sendo preteridos independentemente de suas competências, num claro reflexo do conservadorismo na sociedade, ainda que em 2012.

E a imprensa… oh, a imprensa. Maravilhosamente atuante no que tange a seus interesses, é capaz de transformar qualquer irregularidade em horrendo ou irrelevante, dependendo da situação. A imprensa que falsamente se diz escandalizada com a corrupção (que existe há exatos 502 anos no Brasil) é a mesma, exatamente a mesma, varreu pra debaixo do tapete o Pinheirinho e todo o horror que envolveu o caso. A imprensa é a mesma que a cada movimento grevista joga, invariavelmente, a opinião pública contra os trabalhadores que estão lutando por melhores (ou menos piores) condições de trabalho. A imprensa serve aos interesses do estado, igualzinho à época da ditadura militar.

Num estado dito democrático ainda existe o serviço militar obrigatório, assim como a incoerência-mor: obrigatoriedade do voto. Até para exercer nossa capenga democracia existe algo que vai totalmente de encontro ao conceito.

A verdade é que o Brasil saiu da ditadura, mas a ditadura, infelizmente, não saiu do Brasil.

Carnaval

Detesto.

Galera levantando dedinho, enchendo a cara, ouvindo música(?) de qualidade duvidosa e exaltando uma terra que sequer respeita seu povo é algo que, definitivamente, não me agrada.

Pelo menos é feriado.

(o post foi curto porque é carnaval)

O Papel do Crítico Musical

“Todo crítico é um músico frustrado”.

Quem nunca ouviu essa frase, não mora no Brasil. Ele é repetida ao longo dos anos incansavelmente e se tornou um dos maiores bordões do meio musical. De tanto ser repetida até virar verdade, essa mentira acabou se impondo como máxima incontestável, como um paradígma que ninguém questiona e nem quer questionar.

Durante os últimos seis anos resenhei cerca de 120 shows. uma ótima média de 20 por ano. Isso me deu bagagem suficiente para analisar um show com propriedade seja positiva ou negativamente. No entanto, avaliar negativamente um show significa, invariavelmente, comprar briga com os fãs e ser chamado, entre outras coisas, de crítico.

A palavra “crítico” por si só já vem carregada de desprezo por parte de quem a pronuncia. Reflexo da cultura de que o crítico é aquele cara ranzinza, recalcado e imbecil, cuja única função é falar mal de tudo e de todos. No entanto, o papel do crítico é algo muito acima e muito distante disso, diferentemente do fã, que não paga imposto para usar as palavras “idiota” e “uma merda” (muitas vezes direcionadas a um crítico).

O crítico nem sempre é um músico frustrado. O crítico nem sempre é, sequer, músico. O crítico é, via de regra, uma pessoa com ampla bagagem musical, o que não passa necessariamente pela função de músico. O crítico é alguém que analisa a música e a arte não apenas de acordo com o seu gosto (isso é função do fã), mas de uma maneira mais atenta, embasada e profissional. Por conta disso, acaba por ter que elogiar o brilhantismo de artistas que despreza, bem como de forma até dolorosa escrever palavras nada gentis a respeito de um artista que admira de longa data.

Não me considero um crítico musical, e sim um jornalista musical, mas esse tipo de situação supracitada já aconteceu comigo. Não foi agradável para mim elogiar show da Rita Lee, que detesto, da mesma forma que foi difícil definir o show dos Misfits como um dos piores que já passaram por Porto Alegre. Mas esse tipo de conflito e toda a complexidade que está contida na atividade de analisar e escrever sobre arte nem passa pela cabeça do fã. É mais fácil e rápido chamar de idiota quem tem uma opinião diferente da sua, por mais qualificada que ela seja.

Enfim, o papel do crítico musical é um papel muito importante. Ele transcende o “gosto” e o “não gosto”. A crítica musical é algo precioso para artistas e apreciadores de música. Com ela, o músico tem a oportunidade de refletir sobre seus pontos fracos e fortes, buscando assim evolução artística. O fã pode, através da crítica, conhecer nuances do trabalho de um artista que antes não percebia e, com isso, analisar melhor o trabalho. Enfim, a crítica é um olhar sobre a arte que serve para o crescimento.

Provavelmente nunca deixará de existir um alvo imaginário pintado na testa do crítico musical para onde as armas de músicos e fãs apontarão. Mas a análise desses profissionais podem ser muito preciosas para aquilo que é o sentido da vida de todos os envolvidos: a música.

 

2011 – 2012

Acabooooooooooooooooou! <— Voz de Galvão Bueno.

Finalmente, 2011 se foi. Um ano difícil, conturbado e doloroso.

Foi em 2011 que me deparei com as maiores frustrações. Um ano de luta, sem grandes conquistas. Em 2011, fechei uma nova produção, com a banda Defenestrantes, mas ela ficou para 2012. No banco, frustrações acumuladas que me desencadearam um quadro de depressão, já relatado anteriormente aqui, que também me trouxe dificuldades no âmbito acadêmico. Na família, me deparei pela primeira vez com a morte, perdi meu amado avô, um exemplo de vida, uma das pessoas mais íntegras e corretas que já pisaram nesse mundo. Ou seja: foi difícil.

Pessoalmente, fiz 30 anos. E isso, embora pareça apenas um número, também tem suas dificuldades. Fazer 30 anos te faz repensar a vida, ponderar erros e acertos e te deixa com a (falsa) impressão de que a vida é mais curta do que de fato é. Isso tem dois aspectos: o negativo, que te deprime um pouco pelo tempo, que poderia ter sido melhor aproveitado até ali, e o positivo, que exatamente por isso te injeta um gás novo para viver e constuir coisas novas.

No entanto, aconteceram algumas coisas que me fazem lembrar o ano de 2011 com certa alegria (pouca): finalmente, após 13 anos como músico, conquistei um instrumento top de linha, e hoje sou proprietário de um baixo Fender Reggie Hamilton, a coisa mais legal do mundo em matéria de contrabaixo. Não é, mas eu prefiro dizer que é, porque o som daquela maravilha é simplesmente fantástico. Também em 2011 engatilhei duas bandas que, assim como a produção da Defenestrantes, ficaram pro começo de 2012. 2011 foi, ainda, o ano da produção textual: nunca escrevi tanto quanto em 2011. Isso foi, certamente, um dos motivos de 2011 ter sido o ano da consolidação do Poa Show, que completou 2 anos e 245 shows resenhados.

Enfim, lembro de 2011 como um ano de muitas dificuldades, uma trabalheira monstruosa e muito suor. Dizem que isso constrói grandes realizações, mas isso só saberemos em 2012.

Se 2011 foi assim, difícil e tosco, 2012 promete mais do que os demais anos: a produção da Defenestrantes começa em janeiro, bem como os ensaios com essas duas bandas (uma delas, com meu irmão Murilo Bittencourt, grande amigo e meu guitarrista preferido), a perspectiva da formatura na faculdade de Gestão de Recursos Humanos em Julho e a meta de cursar Audio Básico e Técnicas de Gravação no IGAP. Planos também no âmbito jornalístico, que além do Poa Show pode incluir uma coluna em uma revista bastante conhecida aqui no RS (nada confirmado, se realmente rolar, vocês saberão por aqui).  Enfim, 2012 parece ser um ano de expansão de tudo que é legal.

Morra, 2011.

2012, chegou a nossa hora! C’mon Baby!!!

Taxi dos Beatles

Na manhã de hoje, 13/12/2011, eu estava atrasado e precisei pegar um taxi.

Após alguns minutos parado na esquina da Ceará com a Ernesto da Fontoura, tentando sem sucesso tomar um  taxi que me levasse ao trabalho, eis que surge diante dos meus olhos aquela que era, até aquele momento, uma das maiores lendas urbanas de Porto Alegre.

Nem todos sabem, mas Porto Alegre tem um taxi muito especial. Dentre os 3922 taxis que circulam diariamente pela  capital dos gaúchos um se destaca por sua aparência singular: a decoração temática dos Beatles.  Totalmente adesivado, o carro é revestido por dentro e por fora com alusões à banda de Liverpool que vão desde capas dos clássicos álbuns que fizeram a história da banda até charmosos soveniers. O som, naturalmente, não poderia ser outro: Beatles, o tempo todo.

Ergui o braço sem muita esperança, mas como bom fã, fui atendido.

Fui batendo papo com o motorista durante curtos 8 minutos, tentando através da minhas perguntas saciar um pouco da enorme curiosidade sobre o Taxi dos Beatles. No entanto, o que recebi foi uma triste notícia: o Taxi dos Beatles está com os dias contados.

Isso mesmo. Enquanto escrevo esse texto, os tais dias contados são exatamente onze.

Segundo o taxista (que eu, encantado com o carro acabei esquecendo de perguntar o nome), a Secretaria Municipal dos Transportes, em ordem já assinada pelo secretário, determinou que a decoração fosse removida até o dia 24/12 para que o taxi 4097, temático dos Beatles, um clássico, voltasse a ser apenas mais um taxi dentre os quase quatro mil carros que adotam o horroroso vermelho ibérico como cor.

Pegar o taxi dos Beatles foi uma experiência surreal, mas, principalmente, animadora. Foi algo que encheu meu dia de alegria. A música dos quatro garotos de Liverpool, uma curta imersão pelo universo da banda em meio a uma vida cheia de stress, pressa e responsabilidades foi algo não apenas positivo mas que trouxe um pouco de felicidade a uma monótona e cinza manhã de terça-feira.

Agora, me respondam: Por que isso precisa ser eliminado da cidade?

Não consigo encontrar uma razão para isso. Não consigo enxergar sensatez na decisão de, arbitrária e simplesmente, mandar desfazer a obra de arte que o taxi 4097 se tornou. Acho que se a secretaria dos transportes se manifestou dessa forma, as secretarias da cultura e do turismo também poderiam exercer seus direitos e posicionarem-se a respeito do que está prestes a acontecer.

Ainda está em tempo de evitar essa insensatez.

Resta torcer.

PS: Em breve pesquisa detectei que Porto Alegre não tem uma secretaria de transportes, e sim a EPTC. O taxista pode não conhecer muito bem os órgãos e cargos envolvidos, mas, enfim, o contexto é esse. 😦

Album, EP ou Single?

Uma dúvida vem povoando minha mente como músico, jornalista e produtor musical: Qual o melhor formato para uma banda ou artista independente apresentar seu trabalho ao público pela primeira vez? Um álbum, um EP ou um single?

Durante décadas, antes da popularização do MP3 e dos downloads havia uma necessidade: para ouvir música era necessário pagar por uma edição de um trabalho. Via de regra, os artistas lançavam um disco pensado, nos melhores casos, como uma obra completa: a ordem das canções tinham alguma coerência e era pensado até mesmo no clima gerado pela música de abertura e encerramento de cada um dos lados. Era um processo refinado que exigia um certo bom gosto artístico. No início, existia a limitação dos pouco menos de 50 minutos do disco de vinil, que foram posteriormente expandidos para os 80 minutos do CD. Com os arquivos MP3, a limitação deixou de existir.

No exterior sempre funcionou muito bem a cultura do single, uma música lançada especifica e isoladamente. Normalmente, para complementar, alguma canção que não tivesse entrado no álbum ou alguma outra faixa com alguma relevância (como um cover ou uma versão acústica) eram incluídos no single como “B-Side”. No Brasil, apesar da certa popularidade dos compactos (discos de vinil de 7 polegadas), a cultura do single não vingou com o surgimento do CD.

Agora, com a internet como principal meio de divulgação e com o custo relativamente baixo para se gravar música em qualidade profissional, muitas bandas estão apostando nos EPs, trabalhos com poucas faixas que condensem o estilo e a qualidade da banda em questão.

Pois bem. Permanece a dúvida de que formato escolher.

Um EP é muito bacana pelo custo benefício. Gravar um álbum de 12 faixas demanda muito tempo, energia, dinheiro e dedicação, enquanto um EP vai, normalmente, custar de 20 a 40 % disso.  É uma idéia válida, mas que vai fazer com que a banda tenha pouco a mostrar e necessite, fatalmente, gravar um novo EP em, no máximo, um ano. Outra vantagem é que 4 EPs de 3 faixas significam 4 trabalhos, 4 capas, 4 lançamentos, 4 ações de marketing, etc. São quatro novidades para quem gosta da banda e isso, nos dias de hoje, vale mais do que uma novidade a cada dois anos, como acontecia com o álbum.

Um álbum,  já é uma obra completa. Existe ali muito mais dedicação, muito mais informação e muito mais arte. Através de um álbum full a banda expõe toda a sua identidade, sem cortes. Ainda é a melhor forma de decidir se você é ou não fã de uma banda. Não existe material a ser escondido e também inexiste o risco de ir ao show ou comprar merchandise da banda por causa de uma música genial enquanto as outras são fraquíssimas. Um álbum é sempre um trabalho mais sério e profissional. Demonstra que ali existe um artista de verdade que investiu muito naquele trabalho e que ali está o primeiro ítem de sua discografia. É a entrada oficial no mercado musical, status que um EP não traz. Sem falar que quando alguém gosta de um EP, fica ansioso por ouvir mais daquela banda, e isso pode ser positivo ou bem o contrário disso.

Ainda existem as bandas que vem apostando em lançar músicas de forma avulsa (singles). Isso é bacana porque consegue ainda mais as vantagens do EP. Porém, da mesma forma, consegue ainda mais as desvantagens do EP. A necessidade de reposição do material é enorme. Ninguém aguenta ficar ouvindo uma música apenas por muito tempo. Seria necessário uma rotina permanente de gravações para manter a atenção do público sobre a banda. É bem mais barato gravar uma, mas dá mais trabalho gravar uma por mês do que 4 a cada 4 meses ou 12 por ano. Outra vantagem é que é muito mais fácil um jornalista, crítico ou radialista ouvir seu trabalho quando recebe uma faixa do que as 4 do EP ou 12 do álbum full.

Album, EP ou Single?

Todos tem suas características muito próprias e a decisão soberana do artista deve ser ponderada e bem pensada.

Agora é com você.

PS: Fiz uma pequena lista de vantagens e desvantagens de cada formato. Espero que gostem.

ÁLBUM

Vantagens: Valor artístico, valor agregado, status, respeitabilidade, quantidade de músicas disponíveis.

Desvantagens: Alto custo, necessidade de boas canções que sustentem a audição de uma obra completa.

EP

Vantagens: Obra mais concisa, possibilidade de mostrar apenas as melhores faixas, baixo custo em comparação com o álbum.

Desvantagens: Obra se torna datada com mais facilidade, traz menos status que um álbum,  poucas faixas.

SINGLE

Vantagens: Maior facilidade para popularização do trabalho, escolha da canção mais forte, baixíssimo custo, sobram mais recursos para investir em outras ações.

Desvantagens: Necessidade urgente de uma nova gravação, saturação muito rápida, pode não refletir a identidade do artista.

Frases Sábias do Universo #32

Músico: o mendigo da Música

Músico é o mendigo da música.

Essa frase tão contundente vem sendo repetida com certa frequência por mim, que apesar de exercer diversas funções nessa vida, me considero, acima e antes de tudo, um músico (ainda que não pague minhas contas através dessa atividade). O motivo de tanta revolta(?) é um só: a verdade que a acidez desta frase representa.

A música é, disparadamente, a forma de arte que mais atrai as pessoas, que mais adeptos conquista e que mais artistas possui. Para cada cem músicos existem muito menos escritores, pintores, cineastas, dançarinos, atores e outros tipos de gente que se expressa e tenta viver através de sua arte. Estamos falando, então, de um mercado inchado, com muitos profissionais (ou nem tão profissionais assim) à disposição. As vendas de encordoamentos de guitarra superam, esmagadoramente, a venda de pincéis. Falo isso sem dados estatísticos que me salvaguardem, mas também sem nenhum medo de errar.

A música é, também, a forma de arte com maior apelo popular. Muito mais pessoas ouvem música do que vão à exposições ou a salas de cinema, menos ainda a saraus ou espetáculos de ballet. Existem muito mais consumidores de música do que de outras formas de expressão artística.

Pois bem.

Essa música que as pessoas consomem não é de graça. Pode até não ter custo para o consumidor, mas ela não surgiu sem que dinheiro fosse investido. Existe uma cadeia produtiva que envolve diversos profissionais e que sustenta o mercado de música.

Vamos fazer um breve levantamento de tudo que envolve a atividade de um músico:

Comprar o próprio instrumento, aprender a tocar (aulas, internet, revistas, livros), adquirir mais equipamentos para chegar a determinada sonoridade, horas de ensaio, cordas e palhetas ou baquetas (que devem ser substituidos com frequencia), horas de gravação, contratação de um produtor, prensagem de CDs, desenvolvimento de arte gráfica, sessão de fotos, confecção de website, hospedagem e registro do mesmo website, confecção de material promocional, etc. Vale lembrar que não falamos dos custos com transporte e telefonia, bem como de tempo e energia investidos no projeto.

Ou seja: aqui identificamos estúdios, lojas de instrumentos, professores, editoras, fábricas, transportadoras, produtores, técnicos de som, designers, webdesigners, gráficas, servidores de hospedagem, fotógrafos e outros profissionais sendo remunerados pela música, antes mesmo do lançamento do álbum de estréia de uma banda.

Lançado o material, divulgadores, produtores executivos, donos de casas noturnas, fotógrafos, técnicos de som, empresas de sonorização, iluminadores e roadies também serão remunerados, de acordo com o nível e disponibilidade da banda.

Nenhum dos profissionais supracitados trabalha de graça.

Exceto um.

O músico.

Justamente o músico, a peça fundamental de toda essa cadeia de produção, a mola mestra do mercado musical. Aquele que é a razão de ser da música. Sem ele, não há música, não há harmonia, nem melodia, nem ritmo. Não há nada. Mas existe, enraizada em nossa sociedade, a cultura de que músico não é profissão. De que músico é vagabundo. De que tudo é alegria e diversão, como se a vida fosse um moranguinho encantado. A própria história da formiga e da cigarra é preconceituosa ao extremo e é passada adiante de geração em geração.

Ou seja, a máquina existe e está ali: o mercado de música é subestimado e muitos estão vivendo (ou pelo menos sobrevivendo) dela, menos o músico.

O músico precisa negociar um cachê baixo ou porcentagem da portaria. O músico precisa pagar sua equipe. O músico precisa se virar. O músico precisa implorar por respeito. E, pra piorar o que já é crítico, quando diz “não” o músico recebe diversos adjetivos dentre os quais “arrogante” é o menos ofensivo.

O músico precisa ser valorizado, ter sua profissão reconhecida, livrar-se dos preconceitos e das instituições sanguessugas que regulamentam a atividade (outro entrave, desta vez legal, na atividade) para, então, deixar de ser o mendigo da música, aquele que implora não apenas por uma esmola, mas por dignidade frente a uma sociedade que não o respeita.

Não é possivel precisar quanto tempo uma transformação como essa demandaria.

Mas podemos começar, agora mesmo.

Alvaro Pereira Jr x Pablo Capilé – Música, Cultura, Grande Mídia e Independência

Rolou uma polêmica nervosa.

De um lado, um jornalista de um grande grupo: Alvaro Pereira Junior, da Folha de São Paulo. Do outro, o Circuito Fora do Eixo, grupo formado por artistas, produtores e articuladores culturais de todo o Brasil, representado pelo gestor Pablo Capilé.
Na semana passada, Alvaro cometeu a infelicidade de escrever um texto completamente obtuso a respeito da cena independente se São Paulo e do Brasil. Como quem com ferro fere, com ferro será ferido, Pablo Capilé envioucarta resposta ao jornalista, que foi prontamente publicada pela Folha.

(Acho importante que os interessados leiam os textos com atenção para que meu ponto de vista fique claro)

Pois bem.

O que tivemos através do Sr. Pereira foi uma clara demonstração de como a grande mídia, aquela tradicional, poderosa e milionária comandada por senhores que, como diria Johnny Cash, estão provavelmente bebendo café e fumando grandes charutos, encara a produção independente de música e cultura no Brasil. Para ela, o que não se converte em audiência, em vendas e em dinheiro não tem valor e merece um ataque que vise sua destruição, mesmo que isso signifique uma estupidez sem tamanho.

A produção dos artistas e profissionais do Fora do Eixo é algo que deveria ser exaltado e respeitado por qualquer profissional de imprensa. Um grupo de mais de cem coletivos que fazem artistas que não recebem espaço nessa mesma grande mídia da qual pessoas com esse tipo de postura fazem parte conseguem, através do circuito, rodar o país com baixo custo e, assim, divulgar seu trabalho pulverizando cultura onde jamais conseguiriam sem esse tipo de iniciativa.

Mas não.

Ao invés de escrever qualquer outra coisa menos nociva, Alvaro Pereira Junior preferiu atacar os artistas independentes, aqueles que são, exatamente, os que mais dependem. Ao invés de simplesmente não fazer o mal e deixá-los seguirem seus caminhos, não. Foi preciso escrever de forma obtusa e deselegante, desmerecendo o trabalho e caindo na simplificação burra de comparar o Fora do Eixo a um aglomerado de pessoas oportunistas e sem talento.

Ao invés de construir e contribuir para o crescimento, Alvaro preferiu a construção frasal destrutiva e sem embasamento algum. Palavras ao vento. Ignorância de quem não vive o que os artistas independentes do Brasil vivem e nem se deu ao trabalho de pesquisar para não falar bobagem.

Com todo o respeito que lhe é devido, ele deveria ter ficado quieto.

O apoio estatal ainda é uma forma de fomentar e produzir cultura nesse país. Não existe uma Ancine para a música. Não existe nem respeito para a música. Não existe nada. Só existe jornalista desinformado e corporativista que não apóia e trata com desdém. Isso tem de sobra. Esse é o motivo de os festivais pagarem hospedagem e alimentação para jornalistas em festivais: porque se não for assim eles simplesmente ficam escrevendo coluna idiota e não comparecem aos eventos.

Eu sou apenas um músico, produtor e jornalista inexpressivo se comparado a um jornalista da Folha. Minha opinião pesa muito menos que a do Sr. Pereira. Mas é preciso dizer que Pablo Capilé tomou a melhor das atitudes: responder à ignorância e à prepotência com clareza e informação.

Palmas pro Capilé. E que da próxima vez o Alvaro pense melhor antes de escrever besteira sobre um assunto que não domina.

Isso é muito, muito feio.